Teresa acreditava que se sacrificando conseguiria bônus quando chegasse no céu. Quando saía de casa, deixava tudo limpo e cheiroso, café pronto na mesa para quando o marido acordasse sentisse uma atmosfera agradável. Voltava cansada, mas sempre tinha disposição para ajudar nas tarefas de Marília, sua filha mais nova, e pedir paciência para Emília, a adolescente rebelde que sonhava ser a garota mais disputada pelos rapazes na escola.
Teresa usava toda sua inteligência emocional, embora não soubesse o que o termo significava, para mostrar a filha a importância de estudar, trabalhar, fazer boas amizades ao invés de perder seu tempo em relacionamentos vazios, sexo precoce e envolvimento com bebidas na rua.
O marido de Teresa nunca estudou e sobrebebia, ou melhor, sobrevivia de alguns reparos que fazia no bar do Sr. Vicente, porque de tanto beber por ali e não pagar, o dono do negócio arrumou-lhe uma atividade.
Teresa cuidava da casa, das filhas, do marido, do seu próprio trabalho como telefonista; mas não cuidava do dinheiro que era depositado em um vidrinho azul na cozinha atrás de alguns remédios. O dinheiro volta e meia sumia e ia parar no caixa do bar, no bolso de algum malandro que fazia Emilia acreditar que estava lhe fazendo um favor por conseguir uma foto na revista da escola ou um convite para festa de granfino. Marília avistava a mãe guardando o dinheiro, o pai ou a irmã retirando e colocando escondido no bolso das calças jeans. Sua mente infantil não alcançava o dinheiro, mas já alcançava a dor por não poder fazer nada.
Teresa fazia orações todas as noites para que algo melhorasse na sua vida e de sua família, mas suas forças evaporavam-se na manhã seguinte quando a luz do sol entrava em seu quarto por uma fresta da cortina e ao seu lado ela via um homem cheirando álcool que roncava e tossia. Cansada noite após noite, revirando na cama um sentimento de incompetência por não saber solucionar todo seu sofrimento, e ter que encarar a mesma rotina com o peso de não saber que dia tudo aquilo teria fim. Independente do número de bônus acumulados, ela pensava em fugir e se perguntava: para onde?
Que vida difícil aquela de Teresa, mas infelizmente è muito mais comum do que um possa imaginar. O trabalho dentro e fora de casa, preocupações e difíceis relações com as filhas e o marido. A vida poderia ser muito mais simples e serena do que é, se não houvessem pessoas egoístas e ignorantes. Não é um problema económico, é um problema de cultura e de respeito mútuo. Os valores religiosos podem ajudar mas não são fundamentais. Teresa pensa de puder ter um bônus quando chegasse no céu, e eu penso que ela tenha razão, mas é simplismente a minha opinião. O Amor, antes de tudo, quer dizer sofrimento e renúncia sem pedir nada em troca.
Daniele