Visão Sistêmica: a competência que diferencia líderes em contextos complexos

Durante uma visita ao Castelo de Montjuïc, uma antiga fortaleza militar, com raízes que datam de 1640, construída no topo da colina de Montjuïc em Barcelona, observei algo que traduz com precisão um dos desafios mais relevantes da liderança contemporânea: a capacidade de alternar perspectivas.

Nos jardins ao nível do chão, somos capturados pelos detalhes: texturas, cores e movimentos próximos. Cada flor, sombra e gesto cotidiano é perceptível. À medida que subimos ao topo da fortaleza, a visão se expande — o porto, a cidade, as conexões e os fluxos. O cenário não muda; o que muda é a amplitude do olhar.

O percurso até o topo pode ser feito com uma caminhada, apreciando cada detalhe de perto, ou pelo teleférico, acompanhando a paisagem do alto, em um movimento que permite enxergar padrões e relações que não são visíveis do solo.

A liderança funciona de forma semelhante: é preciso saber quando se aproximar e quando se distanciar, alternando níveis de observação para compreender tanto o micro quanto o macro; tanto o local, regional como o global; e assim tomar decisões mais estratégicas e conscientes.

Alternar perspectivas é uma competência essencial na liderança contemporânea. Em contextos cada vez mais globais, multiculturais e incertos, líderes precisam ajustar seu nível de observação: aproximar-se para entender detalhes específicos e distanciar-se para enxergar o sistema como um todo. Aqueles que permanecem “no nível do solo” tendem a reagir apenas ao que é urgente. Líderes que aprendem a “subir” — a distanciar-se com intenção — conseguem perceber padrões, interdependências e impactos de longo prazo. Ver mais longe não é uma questão de visão, mas da posição de onde se olha — interna e externa.

Essa capacidade de alternar perspectivas não se limita ao ambiente externo. Ela começa dentro do próprio líder. A forma como interpretamos situações, atribuímos significado aos acontecimentos e gerenciamos nossas emoções impacta diretamente a qualidade de nossas escolhas — e, por consequência, a eficácia de nossa liderança.

A liderança, antes de ser uma competência aplicada ao outro, é uma prática interna: é a capacidade de observar a si mesmo com clareza, reconhecer padrões de pensamento que limitam e ajustar, conscientemente, o estado a partir do qual atuamos.

Segundo Tim Gallwey, “A performance é o resultado da capacidade menos a interferência.” E, muitas vezes, essa interferência não está no cenário externo — mas na limitação da perspectiva interna, na forma como nos enxergamos, como nos relacionamos com nossas crenças e valores.

Assim como a perspectiva externa pode ser expandida ao subirmos até o topo da fortaleza, a perspectiva interna também pode — e precisa — ser ampliada. Como lembra o pensador e mentor Marcos Wunderlich, nossa visão de mundo é o filtro silencioso através do qual interpretamos tudo: a nós mesmos, os outros, o trabalho, os desafios e as possibilidades. Não é apenas o que vemos que importa, mas a partir de onde vemos. Se não tomamos consciência desse filtro, corremos o risco de responder à realidade não como ela é, mas como acreditamos que seja — presos a condicionamentos antigos, crenças limitantes e interpretações automáticas.

Líderes eficazes hoje demonstram três habilidades essenciais:

  1. Autoconsciência — Reconhecer seus próprios padrões de reação para não serem dominados por eles.
  2. Regulação Emocional — Manter clareza diante da pressão, garantindo qualidade de decisão.
  3. Visão Sistêmica — Ler interdependências, culturas e impactos além do imediato.

Estas competências não são técnicas; são práticas internas que se desenvolvem pela observação consciente, pela escuta ativa e pelo diálogo real com a complexidade do sistema.

A pergunta estratégica é simples:

Você está liderando a partir do nível do solo ou da fortaleza?
E mais importante: você sabe quando é hora de mudar de posição e de posicionamento?

Quer ampliar sua perspectiva, explorar novas competências ou visualizar cenários estratégicos para sua liderança? Comente abaixo ou entre em contato: coaching@adrianalombardo.com. Vamos juntos expandir o horizonte do seu impacto.

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