Em 6 de agosto de 1945, às 8h15, ocorreu o primeiro bombardeio nuclear da história, na cidade de Hiroshima, no Japão. Um avião de guerra norte-americano, batizado como “Enola Gay”, lançou a bomba atômica “Little Boy” sobre essa cidade, matando e ferindo milhões de pessoas instantaneamente e muitas outras em poucos dias, meses e anos, em consequência dos ferimentos e da contaminação radioativa. Muitas mães grávidas perderam seus filhos e muitas crianças nasceram com deformações. Os sobreviventes sofreram não apenas essas e outras terríveis consequências físicas, mas também fortes danos emocionais, com os quais muitos ainda devem conviver. A partir dessa catástrofe, que acelerou o término da Segunda Guerra Mundial, o Japão se reconstruiu e hoje, além de buscar defender a paz para sua própria nação, tornou-se um país que inspira outros países, atuando em prol do desenvolvimento sustentável e da paz mundial.
Após tantos anos, o risco de outro ataque nuclear ainda assola a humanidade. Com essa preocupação, um grande grupo de organizações não governamentais de vários países criou, em 2007, a International Campaign to Abolish Nuclear Weapons (= Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares). Essa iniciativa da Ican (cuja sigla, em inglês, forma a frase “eu posso”), iniciada em Melbourne, na Austrália, em 2007, veio ganhando cada vez mais força, com a adesão e o apoio de muitas outras organizações – atualmente, conta com 468 parceiros em 101 países. Desde sua criação, a Ican tem incentivado todos os estados membros da Organização das Nações Unidas (ONU) a assinar o Tratado de Proibição de Armas Nucleares. Esse documento, elaborado pela própria Ican, estabelece que os países signatários estão proibidos de desenvolver, testar, produzir, usar, adquirir, armazenar, defender ou promover armas nucleares. Principalmente em virtude dessa iniciativa, hoje, 6 de outubro, a ICAN ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2017.
Desde 20 de setembro deste ano, quando o Tratado foi adotado pela ONU, 122 países já o assinaram, incluindo o Brasil. Embora o país esteja, principalmente nos últimos dois anos, atravessando um momento de desgaste político e descrédito internacional, nessa ocasião o governo soube se posicionar com rapidez, sendo o primeiro signatário do Tratado – enquanto o Japão, lamentavelmente, ainda não assinou. Essa ação tempestiva do Brasil é particularmente importante, principalmente se considerarmos que várias fontes, nacionais e internacionais, confirmaram que o país detém conhecimento, tecnologia e estruturas para desenvolver uma bomba nuclear.
Após o merecido reconhecimento do Prêmio Nobel, agora essa iniciativa da Ican precisa contar com a adesão de todos os países do mundo e ganhar o engajamento de toda a sociedade. O mundo está passando por uma fase de grandes tensões, onde as crises políticas e econômicas, nacionais e internacionais, bem como as grandes migrações humanas causadas por pobreza, conflitos armados e desastres naturais, somam-se à dificuldade de conciliar diferentes crenças, religiões e culturas dentro dos países ou entre eles. Nesse contexto, os pensamentos e as atitudes individuais fazem a diferença, pois é a partir de cada um de nós que se constrói e mantém a paz. Como foi afirmado há mais de 70 anos, após o término da Segunda Guerra Mundial, pelos Estados-membros fundadores da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO: “Uma vez que as guerras começam na mente dos homens, é na mente dos homens que as defesas da paz devem ser construídas.”
Todos nós passamos por nossas dificuldades e, por isso, para prevenir ou “combater” conflitos pessoais ou com nossos familiares, parceiros, amigos e demais pessoas, precisamos constantemente de nos esforçarmos para alcançar, construir ou manter a paz em nosso interior e ao nosso redor. Com o auxílio da psicologia, das várias terapias físicas, emocionais e espirituais, e com metodologias de desenvolvimento humano e institucional como o coaching, é possível “defender a paz” individual e coletiva e ganhar todo apoio necessário para a busca de rumos pessoais ou coletivos, institucionais e inter-institucionais. Dessa maneira, é possível alcançar suas metas sem prejudicar ninguém, respeitando os direitos individuais e as normas, regras e leis que governam a convivência pacífica e democrática com qualquer pessoa, independente da sua origem ou das suas ideias, crenças e valores. Em uma perspectiva nacional e até global, as pequenas ou grandes tensões entre diferentes grupos políticos ou sociais, que já existem em muitos países, inclusive no Brasil, não podem ser mais vistas como algo distante de nós mesmos, nem quando ocorrem do outro lado do mundo. O que pensamos em nossa mente influencia o que fazemos, expressamos ou defendemos na prática. Isso influencia a muitos outros, começando com as pessoas ao seu redor e espalhando-se por qualquer país do mundo, pelas redes inter-pessoais e inter-institucionais, inclusive virtuais. Assim, a busca pela paz é não apenas de seu interesse como pessoa e como cidadão, mas também é importante e necessária para todos, no Brasil e no mundo afora.
No vídeo abaixo, que gravei em Hiroshima em julho deste ano, falo das minhas percepções sobre a cidade e sobre a importância de manter a memória individual e coletiva, inclusive das tragédias, para poder curar a nós mesmos e construir um futuro de paz.
Depois de assistir o vídeo, reflita e comente: O que é a paz para você?
Adriana,
Parabéns pelo texto !! Adorei sua percepção sobre Hiroshima.