Quando comecei a estudar e trabalhar com Coaching, em torno de vinte anos atrás, o maior desafio era fazer as pessoas entenderem o que era coaching. Lembro que um dos meus professores estimulou os alunos a elaborarem um pitch de elevador para ajudar a todos a se inserirem no mercado.
Na época não havia competitividade, pois eram poucos os coaches para tantos clientes potenciais. Já se falava, obviamente, no propósito do trabalho; na importância do próprio coach desenvolver suas competências, atuar de forma ética e consistente, trabalhar gratuitamente ou a baixo custo para se desenvolver e aprimorar as ferramentas aprendidas; além de se focar em pesquisas e estudos constantes, mesmo depois de se sentir apto.
De repente, principalmente no Brasil, houve um “boom” do coaching. Alguns profissionais identificaram que formar coaches seria uma boa oportunidade de negócios e muitos enriqueceram, oferecendo cursos de formação (até mesmo quando nem os treinadores tinham formação em Coaching), usando o ambiente online para ampliar a captação de clientes; mas empobrecendo de conteúdos uma oferta que tinha tudo para fazer uma grande diferença na vida das pessoas e no ambiente corporativo.
Estive em alguns encontros da International Coach Federation (ICF) no Canadá e nos Estados Unidos e tive oportunidade de acompanhar o trabalho de coaches vindos de outros países. Pude perceber que o crescimento desenfreado sem uma base científica não era comum fora do Brasil. Isso foi algo típico de um país que ainda atua valorizando o enriquecimento individual e desvalorizando o crescimento coletivo. Os casos de banalização do coaching são bem menores em outros países. Isso também é fácil de ser verificado por meio de uma curta pesquisa no Google. No Brasil, em 2019, a criminalização do coaching virou debate e foi parar no Congresso Nacional. Isso tudo ocorreu porque vários desses coaches, de fato, são picaretas, enquanto alguns outros foram ingênuos, pois acharam que poderiam faturar rios de dinheiro logo depois de completar um curso de coaching online com investimento financeiro relativamente baixo e poucas horas de estudo e prática profissional. Por estarem desempregados, sem uma opção de carreira, foram facilmente manipulados e depois, vários aprenderam a receita ou a fórmula mágica e seguiram fazendo o mesmo que seus professores. A sociedade foi bombardeada por e-mails, e-books, cursos online gratuitos (alguns construídos em poucas horas sem qualquer embasamento), com mensagens que traziam histórias pessoais e nenhum embasamento científico que deveriam ter vindo da Administração, da Filosofia, da Psicologia Comportamental e Positiva, da Sociologia, da Neurociência e Neurobiologia.
Nessa perspectiva, o número de coaches no Brasil é elevado, mas a qualidade do atendimento fica muito a desejar. São vários os casos de promessas não-cumpridas e de atuações vergonhosas, principalmente, em empresas públicas, quando contratados por pregão eletrônico. Hoje, se alguém já ouviu falar sobre Coaching, é bem comum que saiba contar alguma história de um coach charlatão. Eu mesma já tive a oportunidade de conhecer alguns e pude até entender como eles ludibriam os clientes, criando falsas expectativas de ganhos elevados e sucesso financeiro. De modo geral, eles podem ser considerados perigosos. Por outro lado, pelo que percebi, eles conseguem manipular somente mentalidades fixadas em manias de grandeza, sem uma real preocupação em olhar para si mesmo e desenvolver competências.
Noto que alguns dos meus colegas coaches profissionais estão bastante preocupados com a imagem do seu trabalho desde que começaram a se multiplicar, em nosso segmento, tantas pessoas com esse perfil oportunista e raso. Compreendo e entendo suas razões. Acredito que devemos mostrar o que é coaching de qualidade, (re) apresentá-lo para a sociedade, visto que sua própria imagem foi denegrida e ridicularizada. Por outro lado, tenho certeza que as altas lideranças, as pessoas que ainda buscam um entendimento científico, e aquelas que sabem analisar e identificar talentos na multidão, sempre saberão distinguir os coaches talentosos dessas pessoas que têm “apenas” um certificado ou um discurso de vendas. Coaching é muito mais do que um processo que ensina alguém a ganhar dinheiro ou obter sucesso em tempo milagroso, tirando seus pés do chão sem oferecer qualquer estrutura. Na realidade, o coaching é uma abordagem multidisciplinar que facilita o desenvolvimento de competências, com o apoio de um profissional que sabe instigar o autoconhecimento do seu coachee por meio de várias técnicas e ferramentas. O coach competente é capaz de apoiar o seu coachee a se aprofundar, inclusive, no seu campo de atuação, estimulando o desenvolvimento de produtos e ações inovadoras e impactantes.
Qual será o futuro do coaching? Será que no Brasil, ele se tornará banalizado e, por fim, desconhecido novamente? Sei que, hoje, ao ouvir as pessoas falarem tão cheias de preconceitos e julgamentos sobre o que é o coaching, penso que elas deveriam pesquisar, vivenciar e entender melhor o quanto essa abordagem é capaz de enriquecer de conteúdo interno alguém que, realmente, se abra para o processo. Afinal, ainda que o número de charlatões seja alto, é possível identificar centenas de bons coaches no Brasil.