Como lidar com pessoas de outras culturas? Minha experiência na Indonésia

Morei na Indonésia por três anos. Na minha experiência, notei que mais importante do que aprender o idioma bahasa indonesio, o qual fiz questão de estudar em uma cidade chamada Yogyakarta, era entender a cultura do país. Como lidar com pessoas tão diferentes?

Confesso que uma das habilidades que mais precisei desenvolver foi a tolerância. Era difícil para mim, no início, lidar com o caos da cidade, cheia de barracas nas calçadas e motoristas de táxi aproveitadores. Além disso, a falta de higiene dos ambientes mais simples aos mais refinados era motivo para me deixar constantemente apreensiva. No princípio, por mais que eu tentasse me aproximar das pessoas locais, eu acaba saindo das experiências bem frustrada.

Lembro-me de uma vez que fui convidada a ir na casa de uma artista. Era no horário do almoço e eu tinha a expectativa de provar alguns pratos típicos. Na verdade, ela serviu apenas algumas frutas e, ainda por cima, depois desapareceu. Eu soube pelo marido que tinha ido dormir. Saí de lá decepcionada e achando aquele comportamento uma tremenda falta de educação. Ficava me perguntando se todos eram assim.

Precisei aos poucos me abrir para a cultura, valorizar as diferenças, permitir o meu enriquecimento cultural e até mesmo espiritual; a partir daquela nova experiência. Aos poucos, percebi que algumas das minhas percepções iniciais eram corretas, mas outras não correspondiam à realidade, pois era apenas fruto de uma generalização.

Com o tempo, aprendi que os indonésios são pessoas que evitam os conflitos, que raramento dizem não até para perguntas simples, como “você tem lençóis em uma loja que vende biscoitos”. Por outro lado, a resposta “belum“, que significa “ainda” os enriquece a vida. Se você perguntar para um indonésio, por exemplo, se ele conhece o Brasil. Ele não te responderá com um “não”, mas um “ainda não”. Para eles, nada é definitivo.

Os indonésios gostam de puxar conversa. Se você é um estrangeiro, eles provavelmente irão te perguntar de onde você veio e com um sorriso no rosto tentarão criar um clima amistoso. Há quem não goste da sensação de ser interrompido em suas tarefas ou interprete essas perguntas como intromissão e curiosidade.

As mulheres amam flores, tanto receber para decorar a casa, como presentear. É possível encontrar ramalhetes prontos nos supermercados da cidade. Gostar de beleza e arte é um traço comum. As mulheres amam flores, tanto receber para decorar a casa, como presentear. É possível encontrar ramalhetes prontos nos supermercados da cidade. Gostar de beleza e arte é um traço comum. Por outro lado, os homens amam se reunir em rodinhas de conversa agachados no chão, enquanto fumam um cigarro aromatizado com cravo, o kretek.

Atualmente, com a pandemia do coronavírus se espalhando pelo mundo, muitas famílias estão aprendendo a deixar os sapatos fora de casa. Na verdade, esse é um hábito antigo por lá e que eu mesma aderi. Ninguém entra calçado em casa e nem em ambientes acolhedores como um ateliê, por exemplo, ou um templo. Por outro lado, nos restaurantes e shoppings, as pessoas circulam calçadas.

Entendi na Indonésia, que ainda que muitas pessoas tenham similaridades, elas têm suas próprias referências. Conheci profissionais muito viajados e que, inclusive, tinham se enriquecido com seus aprendizados em outros países. Resolvi, aos poucos, fazer o mesmo. Ao invés de julgar, de estranhar, aprendi a evoluir a partir de seus pontos fortes.

Hoje, ainda amo cozinhar o nazi ou bakmi goreng (arroz ou macarrão frito) e repito espontaneamente algumas de suas frases, misturadas ao meu português. Aprendi em Jacarta a pintar com uma professora balinesa e montei a exposição de arte “Brasil e Indonésia: tão longe e tão perto” que aconteceu em vários lugares de Brasília. O tempo passou, mas ainda convivo com amigas queridas indonésias, e sou sempre convidada para as festas na Embaixada (foto) ou na residência do Embaixador. Essa cultura entrou na minha alma.

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