Arcos pelo Mundo: Portais de História, Cultura e Transformação

Ao redor do mundo, os arcos se erguem como portais simbólicos entre tempos, culturas e identidades. Muito além de elementos arquitetônicos, eles nos convidam a atravessar, a nos mover de um estado para outro, física e/ou emocionalmente.

Recentemente em uma visita ao Arco do Triumfo, em Paris, vi uma referência aos arcos ao redor do mundo, e refleti quais eu tinha conhecido e quais foram as minhas impressões e sensações ao visitá-los.

Em cada cidade por onde passei, os arcos me falaram algo diferente. Em Paris, o famoso Arco do Triunfo, construído por Napoleão, remete à vitória, mas se transformou ao longo do tempo em um espaço de memória e união nacional. A chama eterna e o túmulo do soldado desconhecido, localizados sob o arco, lembram que as vitórias mais importantes são aquelas que promovem paz e dignidade. Na França, terra do glamour, o Arco tambem é um local de estudo e beleza, onde é possível ver Paris em 360 graus.

Em um certo momento, em que eu apreciava a vista da cidade, vi de longe o Grande Arco de La Defense e pensei sobre a ligação entre o antigo e o moderno. O que queremos manter do passado para sempre na nossa vida? O que queremos modernizar, atualizar?

Coincidentemente, no mesmo dia em que fui ao Arco do Triunfo, eu passei pelo Grande Arco de La Defense. Foi a segunda vez em que visitei esse monumento inaugurado em 1989 como parte das comemorações do bicentenário da Revolução Francesa. Ele representa uma releitura contemporânea do tradicional Arco do Triunfo, alinhado com ele e com o eixo histórico que atravessa a Champs-Élysées até o Louvre. O Arco de La Defense é rodeado por obras de arte contemporâneas, espelhos d’água e edifícios modernos, compondo o cenário do maior centro empresarial da Europa. Ver os dois no mesmo dia ampliou a minha capacidade de fazer esse contraponto.

Em Roma, me impressionei com a imponência do Arco de Constantino, inaugurado em 315 e localizado entre o Coliseu e o monte Palatino. É um dos monumentos mais emblemáticos da cidade e um verdadeiro símbolo da transição entre o paganismo e o cristianismo no Império Romano. O arco, construído a partir de peças de edifícios anteriores, integra elementos de imperadores anteriores como Trajano, Adriano e Marco Aurélio. Nos relevos do monumento, feito com blocos de mármore, podem ser vistas estátuas extraídas do Fórum de Trajano e alguns relevos nos quais aparece Marco Aurélio distribuindo pão entre os pobres. Dos arcos que vi até hoje, ele é o único com três arcadas. Andar no centro de Roma é como caminhar na história, e nos livros que li durante a adolescência, visto que a história romana é muito estudada no Brasil.

Em Barcelona, o Arco do Triumfo, embora construído para uma exposição universal de 1888, me pareceu mais leve e acolhedor — um convite à celebração das artes e do encontro dos povos. É um portal situado na confluência entre os passeios de Lluís Companys, São João e a ronda de São Pedro. Ficou marcado para mim, pois ao chegar em Barcelona, no último dia do ano de 2024 para a festa de Reveillon, vi o sol nascendo e uma moça que tentava tirar sua foto com o arco. Eu me ofereci para ajudá-la e nos tornamos amigas.

Em Susa, no Piemonte, onde moro atualmente, visitei o Arco de Augusto. Ali, quase escondido entre montanhas e silenciosas ruas de pedra, senti o chamado da introspecção e da conexão com a natureza. Em tempos de transição pessoal, aquele arco parecia me lembrar que nem toda transformação precisa ser barulhenta; algumas são profundas justamente por sua delicadeza.

Enquanto eu posava para fotos, em certo momento, tirei os óculos de sol e esqueci no local. Estava longe quando me dei conta. Pedi a Deus que o encontrasse de volta, pois são óculos de grau para a miopia. Nos meus pensamentos estava que o que é nosso – é nosso, ninguém pode nos tomar. Ao retornar, os óculos estavam nas mãos de outras pessoas, mas me foram devolvidos.

Na minha jornada como coach e cidadã do mundo, percebo que os arcos simbolizam os momentos de travessia que todos vivemos: mudanças de país, de carreira, de estado emocional. Quando morei na Indonésia, os portais dos templos me ensinaram a desacelerar e a ouvir o que se passa dentro. Já no Japão, cruzar os torii vermelhos foi como atravessar entre mundos: entre o profano e o sagrado, o externo e o interno.

Aprendi que nem todo arco é feito de pedra. Alguns são feitos de encontros, outros de despedidas. Há os que atravessamos com coragem, outros com dor, e há aqueles que só reconhecemos depois de já termos passado por eles.

Como coach, gosto de refletir: cada arco é uma oportunidade de escolha: você entra, você atravessa, ou você apenas observa? Talvez a beleza dos arcos esteja justamente nisso: eles não obrigam, apenas convidam.

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