
Nos últimos anos, empresas investiram bilhões em assessment, métricas, algoritmos e análise de dados para impulsionar desempenho. Tudo isso é essencial. Mas uma realidade muitas vezes negligenciada é que líderes não quebram por falta de técnica — quebram por falta de acolhimento e espaço seguro.
O paradoxo da liderança moderna
Executivos de alto nível são frequentemente treinados para resistir à pressão, tomar decisões rápidas e manter uma imagem de invulnerabilidade. Essa armadura é estratégica: protege carreiras, projetos e resultados. Evita inclusive situações de desrespeito ou bullying de funcionários contra seus superiores hierárquicos.
No entanto, quando prolongada, essa postura se transforma em isolamento. Líderes passam a acumular tensões, frustrações e dores que, invisíveis aos olhos da organização, corroem energia, criatividade e capacidade de decisão.
Áreas que deveriam ser de apoio, como Recursos Humanos, em algumas empresas são excessivamente institucionais e burocráticas — e não oferecem a escuta ativa e o feedback necessários para que o executivo continue exercendo seu trabalho com energia, dinamismo e serenidade interna.
Performance x Sustentabilidade
Avaliações são desenhadas em função de resultados de vendas, uso de orçamento, captação de recursos e parcerias estratégicas. No entanto, sustentabilidade não se mede apenas por KPIs ou resultados trimestrais. Ela nasce de pessoas que podem respirar, pedir ajuda e serem vistas em sua totalidade.
No meu exercício como Coach Executiva, encontro líderes que, além do trabalho, precisam apoiar pais doentes, filhos com dificuldades escolares ou de saúde, e diariamente vestem uma máscara para parecerem impecáveis diante da equipe.
Já testemunhei profissionais que, para suportar a pressão, deixavam de se alimentar, abandonavam a vida social e perdiam sua rede de apoio porque seus relacionamentos não resistiam às demandas profissionais.
Porém, quando acolhidas em ambientes que valorizam a vulnerabilidade estratégica, essas pessoas entregam mais — em eficiência, engajamento e inovação.
Empresas que investem em cultura de acolhimento e inteligência emocional organizacional formam líderes mais resilientes, equipes mais engajadas e têm maior retorno no longo prazo.
O papel do acolhimento
Acolhimento é mais do que empatia: é uma competência executiva.
Envolve reconhecer o outro — e a si mesmo — em sua complexidade, respeitar limites e criar ambientes seguros para a expressão plena de ideias e emoções.
Para recrutadores e gestores de talentos, a pergunta estratégica é clara:
- Estamos construindo ambientes onde líderes podem ser vistos e apoiados sem perder autoridade?
- Estamos avaliando não apenas habilidades técnicas, mas também a capacidade de gerenciar vulnerabilidade com maturidade?
Certa vez, ao perceber que meu superior hierárquico não estava bem, aconselhei-o a ir a um spa — tirar algumas horas para si antes de uma reunião decisiva.
Num primeiro momento ele estranhou a sugestão, mas logo me perguntou se eu poderia agendar, preservando sua discrição.
Ele retornou mais energizado, presente, firme — e a reunião foi um sucesso. Depois, levou a família para um momento de descanso conjunto.
O que faltava não era técnica — era acolhimento.
Quem vê você? Você se acolhe?
Talvez a pergunta mais importante que um CEO ou executivo possa fazer hoje seja:
Quem vê você?
Quem sustenta você quando a tempestade interna é maior que as demandas externas?
Responder a essa pergunta é mais que uma reflexão pessoal. É uma ação estratégica.
Organizações que enxergam e apoiam seus líderes garantem longevidade, saúde organizacional e vantagem competitiva real.
Ao seu redor, existe gente disposta a apoiar você. Mas, se preferir dividir suas angústias com uma profissional, estou aqui.
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