Croácia: reconstrução, identidade e o poder de ressignificar experiências

Croácia é um país de contrastes e encantos. Banhada pelo mar Adriático, combina a beleza natural de suas ilhas e parques nacionais como em Rijeka, uma cidade com alma italiana, com a profundidade histórica de cidades como Dubrovnik, Split e Zagreb.

Após enfrentar uma guerra devastadora nos anos 1990, o país se reinventou com coragem e resiliência, tornando-se hoje um destino vibrante, acolhedor e culturalmente dinâmico. Sua identidade é formada por uma rica combinação de influências mediterrâneas, eslavas, germanas e austro-húngaras, refletindo a força de um povo que soube transformar cicatrizes em possibilidades de futuro.

No entanto, apagar as marcas deixadas por sucessivos conflitos não é tarefa simples. Embora compartilhem o mesmo território nacional, cidades como Rijeka e Zagreb exibem atmosferas distintas. Rijeka, situada na região costeira da Ístria, não foi diretamente ocupada por forças inimigas durante a Guerra de Independência da Croácia, o que contribuiu para preservar seu espírito aberto e acolhedor. Ao longo dos séculos, a Ístria pertenceu a diferentes impérios, como o Romano, o Bizantino, o Austro-Húngaro e o Napoleônico, mas sua ligação mais profunda é com a Itália, que controlou a região entre 1919 e 1947. Conhecida como Fiume em parte de sua história, Rijeka conserva uma energia leve e espontânea. Ao caminhar por suas ruas, é fácil notar a alegria de seus habitantes: músicos animam as calçadas, cafés e restaurantes à beira-mar transbordam vida, e o mar convida a mergulhos em águas transparentes repletas de vida marinha.

Zagreb, por outro lado, carrega em sua paisagem urbana marcas discretas, mas profundamente simbólicas de sua história recente. Um exemplo claro é o túnel Grič, construído em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, e reutilizado durante a Guerra de Independência como abrigo para civis. Integrado a uma rede subterrânea sob a Cidade Alta, é o único túnel aberto ao público e hoje funciona como espaço cultural. Restaurado em 2016, o túnel preserva traços do passado ao mesmo tempo em que abriga uma programação contemporânea.

A guerra deixou perdas humanas incalculáveis e instaurou uma profunda instabilidade política. No entanto, ao caminhar pelas ruas, feiras, museus e espaços públicos do país, o que se sente é a força silenciosa de um povo que escolheu reconstruir, mesmo sem esquecer o passado. É possível notar, especialmente em Zagreb, uma certa reserva emocional: o croata tende a ser mais desconfiado, contido e observador, características comuns em sociedades que atravessaram traumas profundos. Porque reconstruir é atribuir um novo significado ao que ficou. Exige coragem para encarar o que restou — emocional ou fisicamente — e a capacidade de imaginar algo novo a partir dos escombros.

Essa é também a base do coaching transcultural: apoiar pessoas que passaram por rupturas — uma mudança de país, o fim de um relacionamento, uma perda, uma transição difícil — e que, em vez de permanecerem presas ao passado, escolhem criar novos caminhos, com clareza, intenção e sentido.

Zagreb me ensinou que reconstruir leva tempo, sensibilidade e uma rede de apoio. Mas é possível.
E, assim como o túnel Grič, cada um de nós pode transformar seus próprios subterrâneos em lugares de passagem, expressão e vida.

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