
Pesquisa Transcultural
No meu trabalho, como Coach Transcultural, combino pesquisa bibliográfica com imersão etnográfica para apoiar executivos e famílias em suas transições globais. Minha abordagem começa por experimentar um novo lugar como se fosse um recém-chegado — com curiosidade, informações limitadas e abertura tanto para as oportunidades quanto para os desafios de um novo começo.
A fim de ilustrar a metodologia que adoto, usarei o exemplo da minha visita recente a Istambul, uma cidade onde o Oriente encontra o Ocidente, e que atrai muitos profissionais por ter um custo de vida acessível, localização estratégica entre Europa e Ásia, rica herança cultural, ampla oportunidades de negócios, e opções variadas de entretenimento.
Imersão etnográfica
Nas minhas investigações, utilizo as visitas presenciais como instrumentos fundamentais para compreender os contextos culturais. Atuo mais como observadora que interventora – a ideia é interpretar e documentar, sem intenção de modificar a realidade. Estar em contato direto com os lugares, observar hábitos cotidianos e interagir com a comunidade local permite-me captar sutilezas que vão além do que a bibliografia oferece. Essa abordagem, ao mesmo tempo prática e analítica, é especialmente valiosa no Programa de Coaching Transcultural para Expatriados e Líderes Globais, pois me oferece insights aplicáveis para posteriomente facilitar a adaptação, a integração, a inclusão dos profissionais e suas famílias- ou, minimimante, favorecer os intercâmbios e negócios internacionais.
Durante minha visita inicial, explorei tanto os marcos icônicos quanto os bairros mais frequentados por turistas e expatriados como Beyoğlu, famoso por ruas comerciais, vida noturna, e cafés; Sultanahmet (Fatih), localização central dos principais marcos históricos; Ortaköy, charmoso bairro à beira do Bósforo, conhecido por cafés, lojas de souvenirs e a Ortaköy Mosque; Galata / Karaköy, região histórica com a Galata Tower, galerias de arte, restaurantes e vida boêmia, entre outros. Caminhei de ponta a ponta, mesmo nas ruas mais inclinadas, buscando compreender não apenas a beleza da cidade, mas também sua atmosfera e as dinâmicas culturais. Peguei a balsa e andei pelas ruas do lado asiático Kadiköy a fim de captar cada nuance.
Entre os destaques da minha jornada de estudo estiveram locais mundialmente conhecidos como o Palácio e o Harém de Topkapı, a Hagia Sophia, a Mesquita Azul (Sultan Ahmed Camii), o Hipódromo com seu Obelisco, o Museu Hagia Irene e a Torre de Gálata.

Minha jornada pelos principais pontos turísticos de Istambul começou pelo Palácio de Topkapi e seu famoso Harém, antiga residência dos sultões otomanos e centro do poder imperial durante quase quatro séculos. Logo na chegada, ainda do lado de fora, tive a surpresa de assistir a uma cerimônia dos guardas em trajes históricos, uma encenação que conecta o visitante às tradições militares e cerimoniais do Império Otomano e que torna a experiência ainda mais imersiva.

Mais do que sua arquitetura imponente, o Palácio de Topkapi oferece uma verdadeira imersão cultural. Seus amplos pátios com vista para o Mar de Mármara e para o Bósforo, as câmaras ricamente ornamentadas e o reservado Harém Otomano revelam o cotidiano de poder, intriga e luxo da corte.

Caminhar por seus jardins, com panoramas deslumbrantes de Istambul, tirar fotos, é sentir de perto a identidade turca. Essa visita vai além do turismo, ela me proporciona insights valiosos sobre as raízes da hierarquia turca, a noção de privacidade e a fusão entre autoridade e hospitalidade, elementos que continuam influenciando a cultura social e os negócios na Turquia contemporânea.

Aconselho aos meus clientes que também realizem algumas visitas, no entanto, em alguns casos, por falta de tempo, fluência em turco ou inglês, ou compromissos familiares essa compreensão fica dificultada pelos expatriados e executivos internacionais.
Conseguir entrar na Mesquita Azul (entrada franca) e na Hagia Sophia (preço diferenciado para turistas e turcos) exige paciência. Os horários de visita são limitados, as filas são longas, e por isso é importante fazer um bom planejamento.

Em alguns desses locais, o uso do véu pelas mulheres é obrigatório, como na Mesquita Azul (foto). Vestir-se de maneira mais reservada demonstra respeito pela cultura local. Embora muitas mesquitas ofereçam roupas emprestadas para visitantes, essas peças são usadas por várias pessoas, que frequentemente as tiram e jogam umas sobre as outras sem qualquer cuidado ou preocupação em dobrá-las. Por isso, eu prefiro levar comigo as vestimentas adequadas para cada país: além de me sentir mais segura, consigo me conectar rapidamente com os costumes e a atmosfera do lugar.
A Hagia Sophia, construída originalmente no século VI como a joia máxima do Império Bizantino, serviu durante séculos como centro espiritual do Cristianismo Ortodoxo Oriental. Após a conquista otomana em 1453, foi transformada em mesquita, com minaretes erguendo-se ao lado de sua antiga cúpula. Após a queda do Império Otomano, em 1935, tornou-se museu. Em 2020, voltou a ser mesquita, com orações ecoando novamente sob seus mosaicos e colunas de mármore. Essa história em camadas faz da Hagia Sophia não apenas uma maravilha arquitetônica, mas também um símbolo vivo das transformações culturais e políticas da cidade.

Na foto fica clara a minha emoção ao adentrar esse espaço de espiritualidade e arte. O respeito à Jesus, e Maria, estão expostos nas paredes disputadas pelos turistas para tirarem fotos.

Em Fatih, com uma caminhada curta, é possível adentrar ruas com várias lojas de doces árabes e perfumes. No entanto, a maior atração é o vibrante Grande Bazar, um labirinto de 61 ruas cobertas e mais de 3.000 lojas distribuídas em cerca de 30 700 m², frequentemente apontado como o maior mercado coberto do mundo. Entre os corredores, a oferta vai de joias, tapetes, cerâmicas e artesanato tradicional a réplicas de artigos de luxo vendidas por uma fração do preço original.

Fui capturada pelo desejo de passar horas, vivendo essa rica experiência, mas eu tinha que trabalhar com a limitação do tempo. Escolhi oportunizar as interações com as pessoas e entender como a dinâmica comercial funcionava. Falarei disso em um próximo artigo, porque vários detalhes sofisticados permeiam o processo de venda dos produtos.
Fora do ambiente turístico de Fatih, admirei a pequena, mas acolhedora Mesquita de Ortaköy, situada às margens do rio Bósforo.

O ambiente é de muita luz, não apenas pelas requintadas luminárias, mas por exalar leveza e espiritualidade. A paz do interior da mesquita contrasta com a tumultuada área fora, cheia de restaurantes, barracas de vendas de comidas e artesanato, e o porto onde vários viajantes embarcam em nossas histórias.
Atravessei a Praça Taksim; conhecida como coração da área moderna de Istambul e palco de manifestações políticas, como algumas da Primavera Árabe. Local pleno de contrastes – hotéis de luxo e vários pequenos restaurantes de comida barata.
Também vivi o ritmo do Bósforo, cruzando de balsa de um lado ao outro da cidade — reconectando-me com a Ásia, onde já havia morado, e ao mesmo tempo abraçando a Istambul europeia.

Fui presenteada por um belo pôr do sol, um dos mais lindos que já vi na minha vida – mas que em Istambul é maravilhosamente ofertado aos seus moradores todos os dias.
A cidade é plena de rooftops, que recebem principalmente turistas de toda a parte do mundo para tomar um drink, conversar, fazer network, mas principalmente contemplar a vista da cidade.
Conversas de pesquisa e interações reais
Conversando com empresários locais e executivos internacionais, observei como comércio e cultura se entrelaçam, oferecendo percepções valiosas sobre como construir confiança e relacionamentos na Turquia. No entanto, para entender a vida prática é preciso compreender o Islamismo vivido no país. Ainda que eu tenha vivido na Indonésia, um país islâmico, era importante entender as suas distinções.
Durante minha estadia, tive longas horas de conversa com um professor de Islamismo. Ele compartilhou comigo os principais pontos da cultura islâmica, seus valores e tradições. Não obstante, o que mais me marcou foi o espírito de diálogo. Ele perguntou sobre minha vida e experiência profissional, ouviu atentamente minhas crenças e criou um espaço de troca mútua. Não foi uma palestra, mas um diálogo profundo — marcado por respeito e curiosidade de ambos os lados.
Ao final, presenteou-me com um Alcorão em português, gesto que recebi como sinal de generosidade e convite a continuar aprendendo.

Às vezes, como instrumento de pesquisa, utilizo audioguias para compreender a história de um país. Em Istambul, optei por ter um guia local, de modo a entrevistá-lo e entender sua visão como morador. Ele não apenas descreveu os locais que percorremos juntos, mas apresentou suas opiniões sinceras sobre política, religiosidade e sua visão de mundo.

Essas conversas, somadas às minhas próprias explorações, ofereceram percepções que nenhum livro ou aula poderia transmitir plenamente.
Essa primeira visita não foi sobre ver tudo com um checklist de viagem. Foi sobre observar, escutar e me permitir viver o que expatriados frequentemente experimentam ao chegar pela primeira vez.
As conexões que fiz, as pessoas com quem conversei deixaram as portas abertas para novos diálogos e como em todos os locais que eu fui pediram-me carinhosamente “volte amanhã”, “volte sempre” – estilo turco de acolher e dizer que o encontro foi agradável. Apesar de saber que as minhas pesquisas prosseguem, eu também me despedi de cada uma das pessoas com quem interagi com saudade e o desejo real de querer voltar.

Esses aprendizados continuarão a aprimorar o meu trabalho, enquanto guio executivos e famílias a se adaptarem não apenas a novos ambientes, mas também às nuances culturais que moldam como a vida e os negócios acontecem na Turquia. Ainda que o trabalho requeira muitas horas de estudo prévio, eu faço com paixão, e vou adorar apoiar você com um contéudo cuidadosamente preparado para fazer a sua experiência de adaptação leve e efetiva.
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