Imagine um executivo sentado em sua cadeira e recebendo uma proposta para trabalhar no exterior, com crescimento na carreira, além de um salário bem superior ao que recebe no Brasil, mais benefícios. O que acha que ele sentiria? Fora algumas preocupações referentes à vida pessoal e familiar que possam vir em mente, normalmente, uma proposta assim, soa como ganhar na loteria.
Temos a tendência a acreditar que somos muito mais capazes de nos adaptar do que, realmente, somos quando se trata de explorar e vivenciar outras culturas. Conheço casos de executivas que amavam Paris (aliás, como não amar Paris?), mas, ao se transferirem para trabalhar na cidade luz, encontraram inúmeras dificuldades de convivência e precisaram investir em desenvolver competências transculturais. Quando a mudança é para um país da África Subsaariana ou para o Sudeste Asiático, onde a diversidade no estilo de vida, é ainda maior, a experiência surpreende, encanta, mas também apavora. O processo pode ser doloroso, traumático, com danos emocionais irreversíveis. Não porque sejam lugares ruins de se viver, não porque o melhor lugar do mundo precisa ser necessariamente sua terra natal, mas apenas porque são diferentes. Não somos habituados a aceitar, tampouco a se adaptar e assimilar um universo muito distante daquilo que conhecemos.
Em um processo de expatriação, valores e crenças são confrontados. Às vezes é preciso reconstruir todo um modelo mental. Acredito que embora os desafios, essa seja uma das experiências mais enriquecedoras de um executivo. Exatamente para que os expatriados possam aproveitar essa experiência em sua plenitude e ganhar muito mais do que perder por meio dela, é importante se preparar para vivenciá-la, assim como muitas pessoas fazem quando vão se casar, ter um filho, se aposentar.
Essa viagem, que acontece antes do embarque, deve incluir algumas etapas. Digo isso, porque não existe uma receita certa para todas as circunstâncias, principalmente quando se trata de atuar, internacionalmente. Às vezes uma estratégia que funciona bem no Brasil pode não funcionar nos Estados Unidos ou no Japão. Entender as similaridades e as diferenças é que vai garantir tanto a conexão como o respeito à pluralidade e diversidade. Para isso, no meu entender é fundamental:
- Autoconhecimento, ou seja, reconhecer sua própria personalidade, comportamento e valores, para entender o que é importante manter inalterado ou, eventualmente, adaptar para o convívio com a comunidade de outro país, até mesmo para ampliar a percepção de seus pontos fortes e fracos quanto à interação com outra cultura;
- Pesquisa, com foco em conhecer melhor a história do país no qual pretende viver e trabalhar, suas relações com outros países nas dimensões comerciais, econômicas e socioculturais. Nesse sentido, sugiro pesquisar principalmente as informações do segmento empresarial no qual se pretende atuar, para aumentar sua capacidade de analisar as similaridades e diferenças entre seu próprio país e o país de destino e, dessa forma, sua habilidade em mapear e aproveitar oportunidades de desenvolvimento pessoal, profissional e empresarial;
- Interação com outros executivos expatriados do seu próprio país, que já trabalham ou trabalharam no país de destino, a fim de analisar e compreender como eles e suas empresas se adaptaram a esse contexto.
Soma-se a isso a importância de um apoio estruturado nesse processo de expatriação e desenvolvimento de competências. O coaching, em particular o coaching transcultural que venho desenvolvendo desde minha própria experiência como expatriada, é uma abordagem, na qual por meio de instrumentos apropriados e testados, pode auxiliar na preparação do executivo para se abrir a uma nova experiência, melhor que isso a um novo mundo.
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A ilustração do início é perfeita para a ideia do artigo! Realmente, é preciso ter muito jogo de cintura, pois não é apenas uma simples adaptação cultural, mas além disso, há a pressão de ser bem sucedido e mostrar o potencial.