Milan Fashion Week – passos curtos em direção à moda inclusiva

Sou uma apaixonada pela moda. Desde criança, eu alterava o planejamento orçamentário do meu pai, pois amava produtos de alta qualidade. Mesmo não trabalhando diretamente com esse setor, eu atuei como modelo fotográfico, fiz comerciais e desfilei em vários eventos, mesmo depois de adulta. Essa experiência alinhada ao meu trabalho de coaching e mentoria me gerou o convite para ser palestrante do Fashion Revolution Week, por três anos consecutivos. Apresentei os trabalhos – “Um novo mindset para uma moda mais sustentável” (2017), na Casa Thomas Jefferson; “Nova Mentalidade para a Moda Consciente” (2018), na Câmera Legislativa, e Um novo mindset para uma moda inclusiva (2019), no Iesb.

Todas as palestras tinham como objetivo a provocação sobre o que essa indústria ainda precisa aprender sobre temas que, atualmente, passam a ser importantes para os consumidores, além do luxo e do glamour de algumas marcas. Envolver a comunidade de profissionais da moda, estudantes e políticos foi a proposta dos organizadores do evento.

Esse ano tive a oportunidade de estar em Milão e conhecer um pouco dos bastidores do Milano Fashion Week. Obviamente não faltou beleza e sofisticação. No entanto, ainda se nota que são poucos os estilistas que apresentaram propostas sustentáveis e inclusivas. Sem dúvida, houve uma ampliação da diversidade, com uma presença mais marcante de modelos orientais e negros, e variedade no padrão de corpo, tendo inclusive plus-size. Em alguns palcos desfilaram pessoas com a aparência do consumidor, dando a sensação de que aquela moda é para qualquer corpo, raça, orientação sexual ou idade.

De todo modo, no MFW o conceito ainda vem sendo pouco trabalhado no sentido de promover a sustentabilidade. A Sustainable Fashion Week, organizada na Inglaterra, tem essa proposta de reutilizar, ressignificar, reparar, reciclar e recompor. Porém, em Milão, nenhum estilista apresentou um projeto, por exemplo, de como seria possível reutilizar peças de outras coleções, que somadas com algo novo, dariam um ar novo no look, com mais baixo consumo. Ainda que esse tipo de mentalidade pareça contrária ao modelo de mercado de se manter mãos cheias de sacolas, ela é uma tendência. Tem elevado o perfil de consumidor que gasta com consciência, ainda que tenha dinheiro para esbanjar. As novas gerações esperam que suas marcas reflitam seus valores, e além disso há uma pressão cada vez maior dos ativistas ambientais em prol da mitigação dos impactos das mudanças climáticas.

No âmbito da inclusão, são poucos os estilistas que se preocupam em desenvolver roupas confortáveis para quem tem transtornos de integração sensorial, como o Tommy Hilfiger. Ele se diferencia como um futurista em moda. Assista o meu vídeo Um Novo Mindset para uma Moda Inclusiva para conhecer outros exemplos.

Ainda no Milano Fashion Week, a exclusão não acontece somente nas passarelas. A maioria dos eventos são fechados apenas para convidados. Não são compartilhados em telões, não contam com tradução simultânea para todas as línguas, como poderia ser feito com facilidade, inclusive por um dos meus clientes – o KUDO. Perdem a oportunidade de gerar engajamento do público com as coleções; de instruir os estudantes da área; ou de envolver e promover eventos com atores e dançarinos pelas ruas da cidade. Embora, em alguns locais de Milão, principalmente em frente ao Duomo, seja possível sentir a vibração de um evento global, em vários outros pontos da cidade não parece que tem um grande evento ocorrendo.

Como apaixonada pela moda, eu queria ter sentido a vibração de Copa do Mundo nessa indústria. Queria que possibilitassem a quem não está na arena, que pudesse assistir e se desenvolver culturalmente, entendendo o estudo prévio de cada designer antes de apresentar suas novas coleções. Isso teria benefícios para várias dimensões – social, econômica, tecnológica e até mesmo política, sendo que ontem mesmo era dia de eleições na Itália.

De todo modo, amei participar desse evento lindo, apaixonante, e posar para fotos o lado de pessoas com uma beleza exterior e interior visíveis, como a top model russa Irina Shayk e a apresentora e atriz Michelle Hunziker.

Irina Shayk e Adriana Lombardo, Milano Fashion Week 2022
Adriana Lombardo e a apresentadora e atriz Michelle Hunziker

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